Londres

Londres

04/11/2022

 

Superestimei as dimensões da mala. Ou comprei mais coisas do que ela suporta. Pensava sobre isso quando saí do hotel para buscar um café. Voltei bebericando o latte e refletindo que a conjuntura da mala servia como uma metáfora para a vida. Comecei a encaixar tudo. Roupas, livros e chocolates. Para minha surpresa, a mala fechou sem tensão, o zíper correu e minha ideia de alegoria da vida foi por água abaixo.

Marquei com Sacha Darke na Piccadilly. Alguns minutos antes do combinado, avistei-o encostado na fonte central, conhecida como Memorial de Shaftesbury e construída em homenagem ao filantropista vitoriano que propôs a limitação do trabalho infantil e a promoção da educação escolar.

Sacha e eu nos conhecemos em setembro de 2016, num evento realizado na UFRGS. Ele falou sobre as APACs; eu falei sobre um livro que acabara de ser lançado (As Marcas do Cárcere). Voltamos a nos encontrar em Londres, nos anos seguintes: no Centre for Crime and Justice Studies (2017), na University of Westminster (2018), em Pentonville (2019). O encontro previsto para 2020 foi cancelado em razão da pandemia. Reencontramo-nos somente anteontem, novamente em Pentonville, quando então marcamos o almoço para hoje.

Caminhamos algumas quadras, paramos num café, seguimos um pouco mais, descobrimos uma hamburgueria vegetariana. Por todo o trajeto, conversamos sobre criminologias e prisões. Nos despedimos na estação Oxford Circus e tomei o metrô em direção sul, à estação Victoria, onde pegaria um ônibus para Bath. No trajeto, acompanhei o longo pôr do sol que tomou toda a tarde e me lembrei de Sacha descrevendo, certa vez, o pôr do sol no Brasil: “O sol começa a cair e, plum!, já é noite!”