Há três anos estive na Escócia, como professor visitante da University of Edinburgh, e a experiência foi inesquecível. "Good to be back", foi o que pensei assim que desci do avião, logo cedo, em Glasgow. Do que me recordava, havia um único aspecto que poderia trazer certo incômodo: o clima. Sim, o clima escocês é cruel; uma combinação quase diária de frio, chuva e ventos fortes. Pousei, peguei um ônibus para o centro e corri para um café (Nero) para contemplar, de uma ampla janela, a chuva intensa que lavava os grandes prédios centrais estilo art nouveau.
Glasgow passou o dia adormecida. Era domingo. Aproveitei a tarde para uma caminhada e para organizar alguns trabalhos. Enquanto aqui reinava a tranquilidade, os dispositivos eletrônicos me transmitiam a tensão além-mar. As notícias que chegavam das eleições no Brasil eram inquietantes e - é preciso dizer - pessoalmente decepcionantes.
Acompanhei a apuração num boteco, junto a uma amiga que tive o prazer de reencontrar depois de alguns anos, morando aqui. Priscila Fróes é uma das pessoas mais espetaculares que já conheci, e foi especial acompanhar a contagem dos votos ao seu lado enquanto conversávamos sobre políticas sociais, gênero, reggaeton, Foucault, questões tributárias e pessoas escrotas. Celebramos juntos a vitória de Lula.
Amanhã o mundo acordará um pouco mais tranquilo com a derrota (ainda que apertada) de Bolsonaro nas urnas. Mas, não podemos nos enganar: não é a eleição de um homem que vai resolver os problemas de uma sociedade que se mostrou ignorante e violenta. Veremos quais surpresas nos revelam os próximos capítulos.