Bath

Bath

06/11/2022

 

Em certos momentos, eventos diversos parecem se combinar para um propósito. Há quem perceba nesse arranjo inexplicável a mágica da vida. Ou talvez só busquemos um sentido posterior aos fatos. Ou tenhamos uma inclinação a romantizar ocorrências ordinárias. De qualquer forma, hoje tudo se combinou num clima de despedida.

Foi um domingo com chuva constante, de tom cinza aconchegante. Para o almoço, “roast dinner” – prato típico inglês com carne assada (foi cordeiro) regada ao molho de hortelã, acompanhada de batatas ao forno, pudim de Yorkshire, ervilha e cenoura cozidas. Como sobremesa, biscoitos de Natal. Conversamos sobre os efeitos negativos do Brexit (saída do Reino Unido da União Europeia), que passaram despercebidos durante a pandemia, mas que agora pesam no cotidiano dos ingleses. Pat e eu retomamos a contenda sobre o nível do chuvisco: “mizzle” ou “drizzle” (a discussão durou toda a tarde anterior). Então, Peter e eu conversamos sobre a etimologia e o sentido de algumas palavras, em línguas diversas. Pat me passou o jornal do dia. Alguém passou café nesse meio tempo. Como de costume, Peter anunciou sua saída da mesa com um comentário irônico. (Entender o humor britânico demanda tempo. Ainda lembro que, na primeira manhã desta viagem, Peter, apontando para Leo, um gato de 15 anos, disse: “We’re competing to see who dies first. Haha So every morning, when I meet him, I say ‘Morning, Leo! Looks like we both lost the challenge, again!’ Haha”*)

Esta viagem está chegando ao fim. Resta ainda um último compromisso acadêmico antes do voo de volta; amanhã cedo, embarco novamente para Reading.

 

* “Estamos competindo pra ver quem morre primeiro. Haha Então, toda manhã, quando o encontro, digo: ‘Bom dia, Leo! Parece que ambos perdemos a competição novamente! Haha”